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domingo, 11 de outubro de 2009

Memorial

Eu já fui assim....

Construir este memorial foi uma tarefa bastante interessante. Relembrar toda a minha escolarização desde a época da alfabetização foi um pouco laborioso e ao mesmo tempo foi uma satisfação. Isso porque diariamente na correria de casa, trabalho e faculdade essas lembranças ficaram para trás, dentro de um baú. E buscá-las necessitou de reflexão e compreensão dos fatos. Na busca da minha história, tentei colocar os principais fatos que marcaram a minha vida. Alguns bons outros ruins. O que me fizeram ser o que sou hoje.

Eu vim ao mundo no ano de 1979 e no contexto histórico da época ocorria o regime militar. Quando eu entrei na minha primeira escola foi a época do fim do autoritarismo, começo de uma nova democracia e liberdade. Opondo-se a isso eu tinha uma educação diferente em casa e também nas escolas em que passei os primeiros anos de minha escolarização. Uma contradição.
Nasci em uma família pobre, pai cozinheiro e mãe doméstica que vieram do Ceará para tentar a vida no Rio de Janeiro. Meus pais apesar de serem muito carinhosos, atenciosos, companheiros, eram muito tradicionais, talvez por serem muito humildes e terem raízes na roça eles prezassem a disciplina e organização. Morávamos na condição de caseiros em uma casa. Deste local tenho lembranças muito boas de minha infância, pois a casa era muito bonita, tinha bastantes árvores frutíferas na qual eu subia diariamente para comer os seus frutos, brincava com os animais, brinquedos usados que ganhava de outras crianças ricas.

Eu tinha um irmão, o meu melhor amigo.

Da minha primeira escola, lembro-me o primeiro dia em que meu pai me levou, fui toda feliz porque ele me dizia que ali eu iria aprender as coisas do mundo e que seria o caminho para ser uma pessoa melhor. Eu não entendia nada, mas já que meu pai me falava, eu acreditava, pois o amava.

O nome da escola era Jardim de Infância da tia Dora, muito indicada na época por vizinhos pelos bons resultados em alfabetização. Nessa escola os alunos aprendiam pelo método da cópia, repetição, eram castigados no milho e colocados com o rosto na parede quando fugiam às regras. Eu não cheguei a ser castigada, mas fui alfabetizada pelo método tradicional e foi ali que aprendi o bê-á-bá de tudo.
Depois de alfabetizada aos seis anos fui para uma escola uma escola particular confessional protestante, o Centro Educacional Menino Jesus. Esta por sua vez também era muito requisitada por ser de uma doutrina cristã e evangélica. A escola priorizava disciplina, organização, orações, hinos cristãos na hora de formar, etc.
Os professores eram autoritários, atiravam giz nos alunos, gritavam e batiam com suas réguas nas carteiras. Eles objetizavam a boa leitura, escrita, concentração e todos tinham que tirar sempre boas notas. Éramos avaliados com testes e provas e a reprovação vinha se não atingíssemos a meta. Eu não sei como eu passei por isso, mas eu aprendi muita coisa e outras não.



Tudo parecia muito bom e funcionando perfeitamente, quando aos nove anos eu tive uma perda irreparável que foi a do meu pai. Faleceu no dia de seu aniversário, onde em casa o esperávamos com uma festa surpresa. Foi um choque!
Modificou a minha vida intensamente tanto no âmbito escolar como no social.
Mudamos radicalmente a nossa rotina de vida, pois tivemos que sair da casa que morávamos e passar a morar de aluguel. Neste ano eu repeti a 5ª série e tive que sair do colégio particular e foi nestem momento que tive a experiência de estudar em um colégio público, a Escola Estadual São Bento.

Esta escola tinha boas referências, mas como todo colégio público tem suas deficiências.
Na escola pública eu vi outra realidade. Eu pude sentir o gosto da liberdade.
Apesar de ser também um pouco autoritária e tradicional com suas práticas, com seus horários e regras ela era bem diferente da particular. Lá os professores não gritavam intensamente com os alunos.O aluno era respeitado de alguma forma. Havia o respeito.
Eu gostava das festas, passeios, do amigo oculto em que até os professores participavam. Era muito bom. Eu me adaptei rapidamente, pois estava muito avançada em alguns conteúdos e o ambiente era muito legal.
Porém, por ser uma escola seriada existiam as provas, testes e trabalhos no final do bimestre. Contudo, os professores ajudavam muito os alunos. Muitas vezes passei com a ajuda deles.
Lembro-me que alguns eram muito criativos nos trabalhos escolares. Tinha a professora Selma de português da 6ª série. Ela pediu para fazermos um trabalho que o objetivo era perceber os erros de português que observássemos em placas, muros, outdoors, etc. E disse que trouxéssemos para a sala de aula para corrigir entre nós. Passei dois meses olhando tudo nas ruas e encontrei vários erros e eu mesmo já tinha corrigido. Eu adorei.
Obs: Até hoje eu faço esse trabalho mentalmente!

E também tinham os professores que não "esquentavam a cabeça" e não acrescentavam algo significativo. Lembro-me da professora de Artes na 7ª série. Ela entrava toda semana na sala e exclamava: Desenho livre. E ficava lendo revista...
Terminei o 1º grau e infelizmente tive que parar como os estudos para poder trabalhar e ajudar em casa. Voltei um pouco mais tarde ao São Bento para fazer o então o Ensino Médio.
No Ensino Médio, além das provas e testes outra avaliação eram os seminários que eu sempre detestei e nunca entendi para que serviam. Decorava e depois esquecia.
O que eu entendo do São Bento hoje, é que foi uma escola também muito importante no meu desenvolvimento . Tenho muito a agradecer a esta escola, pois foi ali que eu me reconheci e pude ver que existia outro mundo. Fiz muitos amigos que levo até hoje nas minhas lembranças.



Passados quase cinco anos, depois de casada, fui muito influenciada e incentivada por meu marido a retornar os estudos e foi então que busquei novos caminhos. Fiz cursos de informática, digitação, cursinhos pré-vestibulares até então passar no vestibular da UERJ para o campus da Baixada Fluminense em Duque de Caxias.
Enfim... Não gostaria de finalizar aqui, pois pretendo continuar minha caminhada e sei que é longa. Quero continuar construindo a minha história e quero ajudar outras pessoas.

E nisso tudo o que eu aprendi?
Percebi que a educação é um processo lento e contínuo, mas acontece a todo momento.
Segundo alguns autores utopia é um desejo que pode sim ser realizável, então, devemos unir forças para construírmos uma educação verdadeiramente democrática e de qualidade.


6 comentários:

  1. É pessoa, a sua vida estudantil não foi fácil, mas você é guerreira né e conseguiu chegar até aqui e vai muito além que eu sei.
    Agora vai ser complicado postar algo interessante depois deste balde de conhecimento rsrs
    Parabéns, mas vou tentar assim mesmo. bj

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  2. Achei d+ o seu memorial estudantil, um exemplo... e com certeza um longo caminho ainda pela frente.

    Vc é 1000!!! Bjs Juju!

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  3. Celiane, parabéns pelo Blog! Ele está muito lindo! Bem original! A sua história também foi escrita com bastante cuidado, carinhos e demonstra bem sua trajetória escolar. Gostei muito da forma como foi relatando e comentando (se posicionando diante dos relatos). Esta é uma atitude muito reflexiva, analítica... Características fundamentais a um educador crítico e comprometido com uma educação de qualidade... Continue nesta caminhada!!

    Abs
    Ivan

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  4. amigaaaaaaaaaa, ficoumuito legal as fotos, estamos há tão pouco tempo na UERJ e pelas fotos parece que estamos há mais tempo.... tá ficando d+ rsrsrsrsrs

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Celiane diz: Eu adoro quando você comenta aqui!


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